O TEPT – Transtorno de Estresse Pós-Traumático é uma condição de saúde mental que algumas pessoas desenvolvem após terem vivenciado ou testemunhado um evento traumático.
Esse evento envolve uma ameaça real ou percebida de morte, ferimento grave ou violência sexual (como combate militar, desastres naturais, acidentes graves, agressão física ou sexual).
No Brasil, a prevalência do TEPT e a exposição a eventos traumáticos são fortemente influenciadas por altos índices de violência urbana e doméstica.
Um estudo realizado na Região Metropolitana de São Paulo (em 2022) encontrou uma prevalência de TEPT nos últimos 12 meses de 1,6% da população e uma prevalência ao longo da vida de 3,2%.
Há um desafio significativo no Brasil em diagnosticar e tratar o TEPT, pois o transtorno é frequentemente subdiagnosticado ou confundido com depressão e outros transtornos de ansiedade nos serviços de saúde, especialmente nas áreas periféricas e com menor infraestrutura.
O TEPT se manifesta através de um conjunto persistente de sintomas que devem durar mais de um mês e causar sofrimento ou prejuízo significativo na vida da pessoa. Eles são agrupados em quatro categorias principais.
Sintomas de Intrusão (Reexperiência)
O evento traumático é revivido repetidamente, de forma não intencional e angustiante. Onde a pessoa passa a sentir ou agir como se o evento estivesse ocorrendo novamente (pode incluir sintomas físicos como taquicardia ou sudorese).
Também acontecem pesadelos recorrentes e perturbadores relacionados ao trauma além de lembranças involuntárias, recorrentes e perturbadoras do evento.
Angústia intensa ou reações físicas como palpitações e tremores, ao ser exposto a gatilhos que lembram o trauma, como sons, cheiros ou imagens, é comum.
Sintomas de Evitação
Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao evento. E também evitar pessoas, lugares, atividades ou objetos que despertem lembranças do trauma.
Alterações Negativas na Cognição e no Humor
Mudanças persistentes e negativas nas crenças, pensamentos e estado emocional, que se iniciam ou pioram após o trauma.
Um exemplo é a amnésia dissociativa, que é a incapacidade de recordar partes importantes do evento traumático. Outros pontos são:
- Pensamentos negativos exagerados sobre si mesmo, os outros ou o mundo.
- Sentimento persistente e distorcido de culpa sobre a causa ou as consequências do trauma.
- Estado emocional negativo persistente (medo, raiva, tristeza).
- Diminuição acentuada do interesse ou da participação em atividades significativas.
- Sensação de distanciamento ou estranhamento em relação aos outros.
- Incapacidade de sentir emoções positivas como felicidade, satisfação e sentimentos amorosos.
Alterações na Excitação e Reatividade
Um estado de alerta constante (hipervigilância) e reações exageradas como explosões de raiva, que se manifestam verbal ou fisicamente.
Outros exemplos são os comportamentos imprudentes, como se envolver em atividades de risco. Estar constantemente em guarda, como se o perigo estivesse sempre presente. Apresentar reação exagerada a sustos ou ruídos repentinos.
Além de dificuldade de concentração assim como em adormecer ou em ter um sono contínuo.
Fatores de risco para o TEPT
A probabilidade de desenvolver o TEPT – Transtorno de Estresse Pós-Traumático é influenciada por uma combinação de fatores de risco que podem ser classificados em três categorias principais:
Fatores relacionados ao trauma, que são características do próprio evento traumático.
Intensidade e gravidade do evento – traumas que envolvem ameaça direta à vida, violência extrema, ou ferimentos graves.
- Duração e frequência – exposição prolongada ou repetida ao trauma (por exemplo, abusos contínuos ou viver em zonas de guerra).
- Proximidade física – estar muito perto ou diretamente envolvido no evento traumático.
- Natureza do trauma – envolve os traumas interpessoais, causados por outras pessoas, como estupro, agressão, que geralmente são mais traumatizantes do que desastres naturais ou acidentes.
Fatores pré-trauma (individuais e históricos), como ter vivenciado outros traumas, especialmente na infância (como abuso ou negligência infantil).
- Histórico psiquiátrico pessoal ou familiar – ter transtornos de ansiedade, depressão ou outros problemas de saúde mental preexistentes.
- Gênero – mulheres são consistentemente citadas como tendo uma probabilidade maior de desenvolver TEPT do que homens.
- Genética – pesquisas sugerem que fatores genéticos podem influenciar a vulnerabilidade.
- Fatores socioeconômicos – baixo status socioeconômico e menor nível educacional são frequentemente associados a um risco aumentado.
Fatores pós-trauma (ambientais e sociais), ou seja, o que ocorre após o trauma e afeta a recuperação.
- Falta de apoio social – ter uma rede de apoio social frágil, ou sentir-se isolado e sem amparo de familiares e amigos.
- Estressores adicionais – enfrentar outras dificuldades e estresses significativos na vida após o trauma (como perdas financeiras ou problemas de saúde).
- Reações negativas de outros – ser culpabilizado ou criticado por outras pessoas pela ocorrência do trauma.
- Ausência de segurança – não conseguir retornar a um estado de segurança física ou emocional após o evento (por exemplo, em casos de violência doméstica contínua).
- Uso de álcool ou substâncias – usar substâncias como uma forma de lidar com a dor, o que pode agravar os sintomas e dificultar a recuperação.
Diagnóstico e tratamento do TEPT
O diagnóstico do TEPT é baseado em critérios clínicos estabelecidos por manuais como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), onde o profissional avalia:
- Exposição ao trauma – o paciente deve ter sido exposto (direta ou indiretamente) a uma situação que envolva morte, lesão grave ou violência sexual (real ou ameaçada).
- Presença dos sintomas – que devem se enquadrar nas quatro categorias principais (intrusão, evitação, alterações no humor/cognição e hipervigilância), e a quantidade e a gravidade de cada categoria devem atingir os critérios mínimos estabelecidos pelo manual.
- Duração e impacto – os sintomas devem persistir por mais de um mês e causar angústia significativa ou prejuízo funcional em áreas importantes da vida (trabalho, escola, relacionamentos).
O profissional também deve descartar outras condições médicas ou psiquiátricas que possam estar causando os sintomas.
O tratamento para TEPT é individualizado e combina intervenções psicológicas e, se necessário, farmacológicas.
A psicoterapia é fundamental, onde as terapias focadas no trauma são consideradas o tratamento mais eficaz. O objetivo principal é ajudar o paciente a processar o trauma de forma segura e modificar as reações disfuncionais a ele.
A TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental é a modalidade com a evidência mais robusta de eficácia. Inclui exposição terapêutica, onde o paciente é guiado a confrontar (de forma segura e controlada) memórias, pensamentos e situações relacionadas ao trauma, o que ajuda a dessensibilizar a resposta ao medo.
A EMDR – Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares é uma forma de terapia que utiliza o movimento guiado dos olhos, ou outros estímulos bilaterais, para ajudar o cérebro a processar memórias traumáticas.
Na TPC – Terapia de Processamento Cognitivo há uma concentração em como o paciente interpreta o trauma e seus efeitos, ajudando a modificar crenças problemáticas.
Em relação aos medicamentos, eles são usados principalmente para aliviar os sintomas associados ao TEPT (como depressão, ansiedade, insônia e irritabilidade) e são geralmente prescritos por um psiquiatra.
Existe a possibilidade de usar inibidores seletivos da recaptação de serotonina, que são a classe mais comum e eficaz para tratar os sintomas de TEPT, como depressão, ansiedade e irritabilidade.
Também pode ser indicados outros medicamentos, capazes de tratar sintomas específicos, como estabilizadores de humor ou medicamentos para insônia.
Prevenção do TEPT
A prevenção do TEPT – Transtorno de Estresse Pós-Traumático foca em intervenções realizadas logo após um evento traumático (prevenção secundária) para mitigar os sintomas agudos e evitar que evoluam para o transtorno crônico.
Embora a prevenção nem sempre seja totalmente possível, as intervenções imediatas podem reduzir significativamente o risco.
Intervenções imediatas pós-trauma, tem como foco promover a segurança e a estabilidade logo após o evento:
- A prioridade máxima é garantir que a pessoa e seus entes queridos estejam fora de perigo e se sintam seguros. A insegurança contínua é um grande fator de risco.
- Oferecer suporte emocional prático e não intrusivo. A presença de uma rede de apoio forte (família, amigos, colegas) é um fator de proteção essencial.
- Informar a pessoa que ter reações como ansiedade, medo e dificuldades para dormir logo após um trauma é normal. Isso ajuda a “normalizar” a experiência e a reduzir o medo das próprias reações.
- Um profissional de saúde mental pode realizar sessões breves para avaliar as reações e monitorar o desenvolvimento de sintomas de estresse agudo (que duram até um mês) para intervir se eles persistirem.
Intervenções psicológicas específicas, para casos em que os sintomas iniciais forem graves ou persistirem por mais de algumas semanas:
- Terapia cognitivo-comportamental.
- Técnicas de controle do estresse – ensinar métodos de relaxamento, respiração e atenção plena (mindfulness) para ajudar a pessoa a regular sua excitação emocional e física (hipervigilância).
Fatores de proteção em longo prazo (prevenção primária) que, embora não previnam o trauma fortalecem a resiliência geral de uma pessoa:
- Manter hábitos saudáveis como sono regular, alimentação equilibrada e exercício físico, aumenta a capacidade do corpo e da mente de lidar com o estresse.
- O uso de álcool e drogas para fugir da dor pós-trauma pode piorar os sintomas e o risco de TEPT.
- Cultivar a autoestima, a autoeficácia e a capacidade de dar significado às experiências da vida.
- Pessoas com histórico de transtornos psiquiátricos ou traumas anteriores devem procurar acompanhamento profissional mais cedo, dado o maior risco de desenvolver TEPT.
Fontes – Portal Drauzio Varella; Rede D’Or São Luiz; Tua Saúde; Manual MDS; Einstein; O Globo; e Veja Saúde.
