Cuidados paliativos são uma abordagem de assistência à saúde que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes (e de seus familiares) que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida. O foco não é curar a doença, mas sim aliviar o sofrimento físico, emocional, social e espiritual.
É um erro pensar que cuidados paliativos são apenas para quem está no fim da vida. Embora sejam fundamentais nessa fase, eles podem, e devem, ser iniciados logo após o diagnóstico de uma doença grave.
Quando uma pessoa recebe o diagnóstico de doenças como câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar crônica, demências ou doenças renais crônicas em estágio avançado, os cuidados paliativos ajudam a gerenciar os sintomas, a dor e os efeitos colaterais dos tratamentos, enquanto o paciente ainda busca a cura.
Quando a dor, náuseas, falta de ar, fadiga ou outros sintomas relacionados à doença causam um grande sofrimento físico e emocional, e o tratamento convencional não é suficiente para aliviá-los, os cuidados paliativos podem ajudar.
Em casos onde a doença gera ansiedade, depressão, medo, dificuldades de relacionamento familiar ou questões espirituais que afetam a qualidade de vida do paciente e de sua família, é uma opção investir em cuidados paliativos.
Já para a fase final da vida, os cuidados paliativos se tornam o foco principal. O objetivo é garantir que o paciente tenha conforto, dignidade e paz, e que a família receba o apoio necessário para lidar com o luto.
Além disso, muitos idosos vivem com várias condições crônicas, como insuficiência cardíaca e diabetes, que limitam sua funcionalidade e bem-estar, e os cuidados paliativos podem ajudá-los a ter mais conforto e autonomia no dia a dia.
Os cuidados paliativos são guiados por uma filosofia humanizada e completa que incluem:
- Alívio da dor e outros sintomas, onde o controle do sofrimento físico é a prioridade. Isso inclui dor, náuseas, falta de ar, fadiga e qualquer outro sintoma que cause desconforto.
- Apoio psicológico e espiritual, sendo que a equipe de cuidados paliativos trabalha para aliviar o medo, a ansiedade, a depressão e outras questões emocionais que surgem com a doença.
- Apoio social, pois o paciente é visto dentro de seu contexto familiar e social. A equipe ajuda a lidar com questões financeiras, dificuldades de comunicação e outros problemas práticos.
- Quem trabalha com cuidados paliativos encara a morte como um processo natural, sem acelerá-la ou adiá-la. O objetivo é permitir que o paciente viva da melhor forma possível.
- Suporte à família, já que os familiares também são acolhidos e recebem apoio para enfrentar a situação, durante a doença do ente querido e no período de luto.
O cuidado paliativo é um trabalho de equipe multidisciplinar, que envolve os seguintes profissionais: médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas e religiosos ou líderes espirituais.
O foco dos cuidados paliativos é garantir que o paciente não sofra desnecessariamente e que ele, e sua família, possam viver cada momento com a melhor qualidade de vida possível, independentemente do prognóstico da doença.
Recuperação pós cuidados paliativos
Os cuidados paliativos são para qualquer pessoa que tenha uma doença grave que ameace a continuidade da vida, independentemente da idade.
Os grupos que mais se beneficiam dessa abordagem são:
- Pacientes com câncer, para gerenciar os efeitos colaterais da quimioterapia, radioterapia e cirurgias, além de controlar a dor e outros sintomas.
- Pacientes com doenças em estágio terminal, como insuficiência cardíaca grave, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência renal crônica e cirrose, se beneficiam quando a abordagem foca em alívio de sintomas como falta de ar, fadiga e dor.
- Idosos com múltiplas doenças crônicas.
- Pacientes com doenças neurológicas progressivas como Parkinson, Alzheimer, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e demências. O foco é em manter a dignidade e a autonomia o máximo possível.
- Crianças com doenças graves, onde o objetivo é dar o melhor suporte para a criança e a família, que enfrentam um cenário complexo.
É um engano comum acreditar que entrar em cuidados paliativos significa que a pessoa não tem mais chances de recuperação. Na verdade, essa visão antiga já não reflete a abordagem moderna da medicina paliativa.
O objetivo dos cuidados paliativos não é desistir da cura, mas sim melhorar a qualidade de vida do paciente enquanto ele continua o tratamento para a doença. Em muitos casos, os cuidados paliativos e o tratamento curativo (como quimioterapia, radioterapia ou cirurgias) são aplicados simultaneamente.
A recuperação é possível. Em muitos casos, o paciente melhora e pode até ter a doença controlada ou curada.
Nesse cenário, o suporte paliativo pode ser ajustado ou até mesmo encerrado, pois o paciente não precisa mais de cuidados para o alívio de sintomas graves.
É importante diferenciar os cuidados paliativos do cuidado de fim de vida, que é a fase em que o paciente e a equipe médica aceitam que o tratamento curativo não é mais eficaz. Nessa etapa, o foco muda totalmente para o conforto e a dignidade do paciente.
Como escolher profissionais qualificados
A escolha de uma equipe de cuidados paliativos qualificada é crucial para garantir o bem-estar e a dignidade do paciente. Essa decisão deve ser tomada com cuidado, avaliando a experiência, a formação e a filosofia de cuidado dos profissionais.
- O primeiro passo é garantir que os profissionais tenham a formação necessária na área. No Brasil, essa é uma área reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Profissionais certificados demonstram um compromisso com o aprimoramento contínuo e a excelência na prática.
- A experiência prática é tão importante quanto a formação teórica. Pergunte há quanto tempo a equipe trabalha com cuidados paliativos.
Cheque se eles têm experiência com doenças semelhantes à do paciente. Isso não é apenas sobre a doença em si, mas sobre a compreensão dos desafios e dos sintomas específicos que ela causa.
- A forma como a equipe se relaciona com o paciente e a família é fundamental.
O profissional deve demonstrar empatia, respeito e um foco genuíno na qualidade de vida.
A equipe deve ser clara, honesta e acessível. Eles devem ouvir as preocupações do paciente e da família e responder a todas as perguntas de forma compreensível.
Certifique-se de que a equipe valoriza a autonomia do paciente e o inclui nas decisões sobre seu tratamento.
- Como os cuidados paliativos exigem uma abordagem completa, o ideal é escolher uma equipe que ofereça diversos profissionais.
- A equipe deve ser bem coordenada e ter a capacidade de trabalhar em conjunto para criar um plano de cuidado integrado.
Antes de definir a contratação dos serviços, converse com outros pacientes ou familiares que já passaram pela experiência. As recomendações pessoais são valiosas, busque referências.
Cuidados paliativos em casa
Os cuidados paliativos não se limitam ao ambiente hospitalar. Eles podem ser oferecidos em casa, em clínicas especializadas ou em casas de repouso.
A opção pelo cuidado domiciliar é cada vez mais comum, pois oferece conforto e permite que o paciente esteja em um ambiente familiar.
Para que os cuidados em casa sejam eficazes, é essencial ter uma equipe de profissionais qualificados, que façam visitas regulares. Eles gerenciam a dor, administram medicamentos e monitoram a saúde do paciente.
A equipe de saúde orienta e capacita os familiares a cuidarem do paciente no dia a dia, ensinando como administrar medicamentos, lidar com a higiene e reconhecer sinais de alerta.
Muitas equipes oferecem um sistema de apoio por telefone para emergências ou dúvidas que possam surgir a qualquer momento.
O cuidado paliativo domiciliar é uma opção que deve ser discutida com a equipe médica para garantir que a segurança e o bem-estar do paciente sejam priorizados.
Fontes – Ministério da Saúde; Informe ENSP/Fiocruz; Instituto Oncoguia; Portal Drauzio Varella; CNN Brasil; Manual MSD; e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
