A dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta principalmente a capacidade de ler. Ela não é uma doença ou um sinal de inteligência baixa.
Na verdade, é uma condição neurobiológica, o que significa que o cérebro de uma pessoa com dislexia funciona de uma forma um pouco diferente, especialmente na área que processa a linguagem.
Seus fatores de risco estão relacionados principalmente à genética e a certos aspectos do desenvolvimento.
A dislexia tem uma forte componente hereditária, o que significa que ela tende a ocorrer em famílias.
Se um ou ambos os pais são disléxicos, a probabilidade de um filho também desenvolver a condição é consideravelmente maior. Estudos indicam que entre 30% e 50% das crianças com um pai disléxico podem desenvolver a dislexia.
Pesquisas com gêmeos mostram que a dislexia é muito mais comum em gêmeos idênticos (que compartilham 100% de seu material genético) do que em gêmeos fraternos, reforçando a forte influência genética.
Embora nenhum gene único tenha sido identificado como a causa da dislexia, pesquisadores encontraram vários genes (como DYX1C1, DCDC2 e KIAA0319) que estão associados ao desenvolvimento de áreas cerebrais relacionadas à linguagem.
Quando falamos de fatores neurobiológicos e de desenvolvimento, eles estão ligados ao desenvolvimento do cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pela leitura e pela linguagem.
A dislexia está associada a padrões de conectividade neural diferentes no cérebro, especialmente em áreas que processam a decodificação de sons e símbolos.
Embora sejam menos comuns, fatores como prematuridade e baixo peso ao nascer podem aumentar o risco de dislexia.
A exposição da mãe a substâncias tóxicas, como álcool, fumo ou certos medicamentos, durante a gravidez, pode afetar o desenvolvimento cerebral do feto e, consequentemente, aumentar o risco.
Em relação aos fatores ambientais, é preciso destacar que um ambiente familiar com pouco acesso a livros, estímulos de leitura e uma educação de baixa qualidade pode exacerbar as dificuldades de uma criança com dislexia.
No entanto, é crucial entender que a dislexia não é causada por má instrução, mas pode se tornar mais visível ou grave na ausência de suporte adequado.
É importante ressaltar que a dislexia não é causada por preguiça, falta de inteligência ou falta de vontade. É uma condição neurológica que exige diagnóstico e intervenções adequadas para que a pessoa possa desenvolver as melhores estratégias de aprendizado e ter sucesso em sua vida escolar e profissional.
Sinais que podem indicar dislexia
A dislexia é um transtorno de aprendizagem que se manifesta em diferentes idades. É importante observar os sinais em cada fase, pois eles podem variar.
Na fase pré-escola (dos 03 aos 05 anos), os sinais são mais sutis, mas podem indicar um risco para o desenvolvimento da dislexia. Fique atento para:
- Atraso na fala – a criança começa a falar mais tarde que outras da mesma idade.
- Dificuldade em aprender rimas e canções – com dificuldade para memorizar a letra de músicas e brincadeiras que envolvem rimas.
- Problemas com a pronúncia – troca sons de letras como, por exemplo, o “f” por “v”; o “b” por “p”.
- Dificuldade em reconhecer letras e números – não consegue associar o nome à forma das letras.
- Problemas com a motricidade fina – dificuldade em segurar o lápis, desenhar ou amarrar os sapatos.
Na fase escolar (ensino fundamental), é quando os sinais de uma possível dislexia se tornam mais evidentes, pois as exigências de leitura e escrita aumentam.
- Dificuldade para decodificar palavras – a leitura acontece de forma lenta e silabada, com dificuldade para juntar os sons das letras.
- Problemas de ortografia – comete erros constantes, como inverter letras (b/d), omite letras (escola/escola) ou troca a ordem delas (causa/casa).
- Escrita ilegível – escreve de forma desorganizada e difícil de entender.
- Dificuldade em entender o que lê – precisa reler o mesmo texto várias vezes para entender o sentido.
- Evita atividades que envolvem leitura e escrita – como há uma frustração com as tarefas, prefere outras atividades.
- Confusão com palavras parecidas – troca palavras que têm sons semelhantes como, por exemplo faca/vaca, bolo/bola.
Embora o diagnóstico seja feito, geralmente, na infância, os sinais podem persistir e causar dificuldades na vida adulta. Fique atento para:
- Leitura lenta e com pouca fluência – a leitura de textos longos (livros, relatórios) é cansativa e demorada.
- Dificuldade em organizar ideias para escrever – problemas para redigir emails, relatórios ou resumos.
- Ortografia inconsistente – a pessoa pode cometer erros de ortografia que não cometeria antes.
- Dificuldade em decorar informações – tem problemas para memorizar listas, sequências e datas.
- Pouca habilidade com a matemática – pode ter dificuldade para fazer cálculos mentais e entender conceitos matemáticos.
É importante lembrar que esses sinais podem variar de pessoa para pessoa. A dislexia não é falta de inteligência, mas uma forma diferente de o cérebro processar a informação.
O diagnóstico precoce e a intervenção adequada são essenciais para ajudar a pessoa a desenvolver estratégias e superar os desafios.
Diagnóstico da dislexia
O diagnóstico da dislexia é um processo complexo que envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos e neurologistas, um teste único é ineficaz para fechar a questão.
O objetivo é descartar outras possíveis causas para as dificuldades de leitura e escrita e confirmar que os sintomas são consistentes com a dislexia.
Como cada profissional atua para o diagnóstico:
- Fonoaudiólogo(a) – avalia as habilidades de linguagem, como a percepção e o processamento dos sons das palavras (consciência fonológica).
- Psicopedagogo(a) – avalia o desempenho acadêmico, a forma como a pessoa aprende e as estratégias que utiliza.
- Neuropsicólogo(a) ou Neurologista Infantil – avalia as funções cognitivas (memória, atenção) e o funcionamento cerebral.
- Psicólogo(a) – ajuda a identificar possíveis questões emocionais e de autoestima que podem ser causadas pela dislexia.
O diagnóstico envolve várias etapas:
- Avaliação da história do paciente – o profissional investiga o histórico familiar (se há casos de dislexia na família), o histórico de desenvolvimento e o desempenho escolar do paciente.
- Testes padronizados são aplicados para avaliar a capacidade de leitura, escrita, ortografia, consciência fonológica, e velocidade de processamento.
- Avaliação clínica é onde o profissional observa como o paciente se comporta em tarefas de leitura e escrita, identificando as dificuldades específicas.
- A análise completa com base em todos os resultados, é onde a equipe discute e chega a uma conclusão diagnóstica.
Tratamento da dislexia
A dislexia é uma condição para a vida toda, mas o tratamento é extremamente eficaz para ajudar a pessoa a desenvolver estratégias de aprendizado e compensar suas dificuldades.
Quanto antes o tratamento for iniciado, melhores serão os resultados. As intervenções são individualizadas, geralmente com a supervisão de um fonoaudiólogo ou psicopedagogo, para ajudar a pessoa a desenvolver estratégias de leitura e escrita.
O apoio da família e da escola são fundamentais para que a pessoa com dislexia possa superar os desafios e alcançar seu pleno potencial.
- Intervenção educacional especializada é o pilar do tratamento. O trabalho é focado em estratégias de ensino que atendem às necessidades de uma pessoa disléxica.
Fonoaudiólogos e psicopedagogos utilizam métodos multissensoriais, que usam vários sentidos (visão, audição e tato) para ensinar a relação entre letras e sons.
É feito o treino da consciência fonológica, para ajudar a pessoa a identificar e manipular os sons das palavras, o que é fundamental para a leitura.
Através de técnicas de memorização, usa-se mnemônicos, mapas mentais e outras ferramentas para ajudar a organizar informações.
- Apoio na escola e no ambiente de estudo, onde o sucesso do tratamento depende de um esforço conjunto entre a família, a escola e os profissionais.
São feitas adaptações pedagógicas, onde o professor pode fornecer textos em letras maiores, dar mais tempo para as avaliações, permitir o uso de um computador ou usar recursos visuais para explicar o conteúdo.
É importante manter uma comunicação constante entre pais, professores e profissionais de saúde para garantir que o plano de tratamento seja consistente.
- Suporte emocional e psicológico, pois conviver com a dislexia pode ser emocionalmente difícil, causando baixa autoestima, ansiedade e frustração.
Um psicólogo pode ajudar a pessoa a lidar com os sentimentos negativos e a construir uma autoimagem positiva, focando em suas forças e talentos.
Com o diagnóstico e tratamento adequados, pessoas com dislexia podem aprender a superar seus desafios e ter sucesso na vida acadêmica e profissional.
Prevenção da dislexia
A dislexia, por ser uma condição neurobiológica com forte componente genético, não pode ser prevenida. Não há vacina, dieta ou exercício que impeça seu desenvolvimento.
No entanto, é possível minimizar os impactos e reduzir a gravidade das dificuldades que ela causa, através de uma intervenção precoce e eficaz.
Quanto mais cedo os sinais são identificados e o suporte é oferecido, maiores as chances de a criança desenvolver estratégias de compensação e ter sucesso acadêmico.
Algumas formas de reduzir os impactos da dislexia são:
- Fique de olho em sinais precoces na pré-escola, como atraso na fala, dificuldade em memorizar rimas e canções, ou problemas para reconhecer letras e números.
- Em famílias com histórico de dislexia, a vigilância é ainda mais importante.
- Estimule o desenvolvimento da linguagem, dialogue, cante, leia livros em voz alta, para a criança.
- Brinque com os sons das palavras. Por exemplo: pergunte qual palavra rima com pato; ou qual o primeiro som de casa.
- Tenha livros em casa e torne a leitura uma parte divertida da rotina, mesmo antes de a criança começar a ler sozinha.
- Mostre que você também gosta de ler. A atitude dos pais é um grande exemplo.
- Se você notar que seu filho tem dificuldade com a fala, ou com os sons das letras, procure um fonoaudiólogo. Ele pode ajudar a fortalecer habilidades essenciais para a leitura.
- Se as dificuldades persistirem, um psicopedagogo pode fazer uma avaliação mais detalhada e criar um plano de intervenção.
Lembre-se que o objetivo não é evitar a dislexia, mas dar à criança as ferramentas necessárias para lidar com ela.
Ao agir cedo, você não apenas melhora as habilidades de leitura e escrita, mas também fortalece a autoconfiança e a autoestima da criança, que são frequentemente afetadas pela dislexia.
Fontes – Biblioteca Virtual em Saúde; Associação Brasileira de Dislexia; Rede D’Or São Luiz; Summit Saúde Estadão; Veja Saúde; e Portal Drauzio Varella.
