A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é parasitária e causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi.
Ela é transmitida, principalmente, por insetos vetores que são chamados popularmente por “barbeiros”. Esses insetos são encontrados principalmente nas Américas, incluindo partes da América Latina, como o Brasil.
A infecção por Trypanosoma cruzi pode ocorrer de várias maneiras, sendo a mais comum através das fezes dos insetos.
Quando o inseto infectado pica um hospedeiro, ele defeca próximo ao local da picada, liberando os parasitas que, por sua vez, entram no corpo através da pele lesionada ou de mucosas, como a conjuntiva ocular.
Outras formas de transmissão da doença de Chagas são através de transfusões de sangue contaminado, transplantes de órgãos, ingestão de alimentos contaminados, ou de mãe para filho durante a gravidez.
A doença de Chagas pode passar por duas fases distintas: a aguda e a crônica, e os sintomas podem ser diferentes em cada uma delas.
Na fase aguda:
- Após a picada do inseto vetor, pode ocorrer inchaço, vermelhidão e coceira no local.
- Sensação geral de indisposição, fadiga e fraqueza.
- Dores musculares e articulares podem ocorrer.
- Inchaço ao redor dos olhos, conhecido como “edema palpebral”.
- Aumento dos gânglios linfáticos.
Na fase crônica:
- Pode afetar principalmente o coração, levando a complicações como arritmias, insuficiência cardíaca, dilatação do coração e trombos.
- Comprometimento do sistema digestivo, incluindo dificuldades de deglutição devido a problemas esofágicos e distúrbios intestinais.
- Dilatação do esôfago, causando dificuldades na passagem de alimentos.
- Dilatação do cólon, levando a problemas digestivos e constipação.
- Em alguns casos, pode haver comprometimento do sistema nervoso, causando distúrbios neurológicos.
- Distúrbios do sono e problemas psicológicos, como ansiedade, também podem ocorrer.
É importante notar que a maioria das pessoas infectadas permanece assintomática por muitos anos.
No entanto, a doença de Chagas pode progredir para a fase crônica, podendo ser grave e potencialmente fatal.
O diagnóstico precoce e o tratamento são essenciais para reduzir o risco de complicações graves.
Tratamento da doença de Chagas
O tratamento da doença de Chagas envolve o uso de medicamentos específicos para combater o parasita.
Os dois principais medicamentos, administrados via oral, são:
- Benznidazol, onde o tratamento normalmente dura de 60 a 90 dias, mas a duração específica pode variar com base na idade, peso e tolerância do paciente.
Efeitos colaterais podem incluir náuseas, vômitos, perda de apetite, erupções cutâneas e outros sintomas gastrointestinais.
- Nifurtimox, onde o tratamento geralmente dura de 90 a 120 dias.
Pode causar efeitos colaterais semelhantes aos do benznidazol, incluindo problemas gastrointestinais, além de distúrbios neurológicos, como neuropatia periférica.
É importante ressaltar que o tratamento é mais eficaz quando iniciado precocemente, na fase aguda da doença.
Em casos de infecção crônica, o tratamento pode ser mais desafiador e menos eficaz na eliminação do parasita, mas ainda pode ser benéfico na redução da progressão da doença e na prevenção de complicações.
Durante o tratamento, os pacientes são monitorados de perto para avaliar a resposta ao medicamento e gerenciar quaisquer efeitos colaterais.
Exames de acompanhamento, como os de sangue para detectar a presença do parasita, são realizados para avaliar a eficácia do tratamento.
É fundamental que o tratamento seja administrado sob a supervisão de profissionais de saúde especializados na doença de Chagas.
Em alguns casos, pode ser necessário tratar os sintomas e complicações associadas à fase crônica da doença.
A abordagem terapêutica deve ser personalizada com base na avaliação clínica de cada paciente.
Fatores de risco para a doença de Chagas
São vários os fatores que podem aumentar o risco de contrair a doença de Chagas, entre eles estão:
- residência em áreas endêmicas;
- condições de moradia precárias;
- viagens para áreas endêmicas;
- exposição ocupacional, como ser trabalhador rural, agricultor e profissionais que lidam com construção e manutenção de habitações;
- hábitos de higiene e comportamentais, como não lavar as mãos antes de comer;
- transmissão vertical de grávidas infectadas para seus filhos que estão no ventre;
- idade, onde crianças e idosos podem estar em maior risco de complicações graves;
- imunossupressão;
- exposição acidental a vetores em ambientes urbanos; e
- fatores socioeconômicos, sendo que populações com acesso limitado a cuidados de saúde e condições adequadas de moradia ficam mais expostas ao risco de contaminação.
Prevenção da doença de Chagas
A prevenção da doença de Chagas envolve medidas para evitar a exposição ao parasita Trypanosoma cruzi, para isso algumas estratégias são:
- Reduzir a presença de barbeiros em ambientes residenciais. Isso pode incluir o uso de inseticidas apropriados e a aplicação de medidas de higiene ambiental.
- Melhorar as condições de moradia para evitar a entrada e o abrigo dos insetos, como vedação de rachaduras e fendas nas paredes.
- Utilizar telas em portas e janelas para evitar a entrada dos insetos.
- Evitar dormir em áreas onde os barbeiros são conhecidos por serem ativos, como em cabanas de pau a pique.
- Usar mosquiteiros tratados com inseticida durante o sono, especialmente em áreas endêmicas.
- Sacudir roupas de cama, roupas e calçados antes de usá-los, pois os barbeiros podem se esconder nesses objetos.
- Evitar o consumo de alimentos ou sucos contaminados, pois a doença pode ser transmitida por via oral.
- Ter cuidado com a transfusão de sangue e transplantes de órgãos, pois a transmissão também pode ocorrer por meio desses processos.
- Realizar triagem e testes para detectar a presença do parasita em doadores de sangue e órgãos.
- Adotar medidas para garantir a segurança transfusional e de transplantes.
- Realizar exames para detectar a presença do parasita em mulheres grávidas, e assim prevenir a transmissão vertical (de mãe para filho) durante a gestação e no parto.
- Fornecer tratamento adequado para mulheres grávidas infectadas.
- Promover a conscientização sobre a doença de Chagas em comunidades que estão em áreas endêmicas.
- Educar profissionais de saúde para reconhecer sintomas, realizar diagnósticos e fornecer tratamento adequado.
- Manter sistemas de vigilância para monitorar e controlar a prevalência da doença em áreas endêmicas.
- Implementar estratégias de controle em resposta a surtos ou mudanças nas condições epidemiológicas.
Fontes – Biblioteca Virtual em Saúde; MSD Manuals; Fiocruz; Drauzio Varella; Médicos Sem Fronteiras; e CNN Brasil.
